30/03/13

CANTO DO HOMEM SOBRE O VERDUGO

Vergado pelo jugo
não cede
compete

não dorme o verdugo

na rua o futuro
parado
suspende

sustém e suspeita
tão raso na pele a fome que é
seita


Não dorme o verdugo
na praça

Suspeita

O homem não
deixa
nem cede pelo jugo
nem pela receita

aceita a palavra
recuo não aceita

Não dorme o verdugo
que tem a suspeita

no prato não
come

na cama não
deita

mulher nem
o pão

mas só a
suspeita

Não ri o verdugo
que o homem não deixa

na praça não dança

Consigo descansa
o homem
que tem os olhos na esperança

Motivos são montes
cidades preceitos

não dorme o verdugo
de noite no leito

Não canta na praça
não come a laranja

que o homem semeia
em fundo na esperança

Comida a suspeita
que não come
pão
na praça não deixa as armas
no chão

que o homem debaixo
do jugo suspende

suspeita o verdugo
do homem que prende

Maria Teresa Horta

In De Palavra em Punho – Antologia Poética da Resistência – De Fernando Pessoa ao 25 de Abril, org. José Fanha, ed. Campo das Letras

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