25/03/13

nunca
ter estado
suficientemente
próximo

nunca
te ter
fixado
longamente

nunca
ter
festejado


com
o meu
olhar
a tua
face

com
as minhas
mãos
a tua
forma

com
o meu
corpo
o teu
ritmo

quantas vezes
me perguntei
como
seria

quantas vezes
tentei adivinhar
como
fazes

como
farias

tantas vezes
te desejei
e
esperei
que sabia
que te receberia

ironia

não nos encontrámos
senão quando
partias

bruscamente
fiquei presa
ao movimento

imperiosamente
atraída

como te procurei
como nos encontrámos
nunca
nos aproximando

sei hoje

sabia que partias

enquanto eu tecia os dias
no prazer de nos sentir
procurar

foi cruel
teria ido ter contigo

foi cruel
pensavas que não ia
porque sabia

adivinhava-te
e fugia

em dias
que foram
cada dia
mais frios

em noites
mais
brancas
no branco
do gelo

ontem o sol
inundou o dia
restituiu as cores roubadas
deu brilho à neve
e por toda a parte modelou
estalactites
de cristal

vi-te
de manhã
cedo
mas
passei

adiei

fui
ver
o
sol

comprei
flores
e
frutos

radiante

procurei-te

seguravas uma mala
vestias casaco
acompanhavas
os amigos
que
partiam

sentei-me próxima
de onde jogavas
xadrez

levantaste-te
ias despedir-te
fui também

aproximaste-te
vieste despedir-te de mim

não quis acreditar
até que me disseste
- ser tarde demais
- não quereres
partir

angústia de te perder

mas partiste no dia
mergulhado em sol
nas horas suaves
da tarde

deixaram-me pensar
que voltavas
deixaram-me pensar
que te encontraria
quando
te procurasse

Ana Margarida
in do tamanho das nossas vidas, Filipe Chinita

Sem comentários:

Enviar um comentário