30/12/12

Escrita Automática III

Era uma vez alguém
Que miserável
Só se lembrava do que não devia

De repente, a separação entre as coisas
Tornou-se uma ténue linha
Apenas conceptualmente exigente

O eco das palavras ditas
São assim, chicotadas no seu não frágil corpo

Ou melhor, das ouvidas
Da comparação com os fantasmas
(que ofensa é muito feio)
Que hão-de habitar ainda por mais tempo
A sua não frágil mente

Era uma vez alguém
Que se lembrava da voz
“Sê consequente!”

Ou melhor, lembrar não lembrava
Que afirmação essa
era quadro fixo na decoração do seu pensamento.

Bárbara Bardas

27/12/12

Escrita Automática II

Era uma vez alguém
Que ao invés de seguir com o que queria
(ou com o que pensava que queria)
Que arranjar justificações arranjava
Para nada fazer (?)
E para se desbaratinar
Entre lagos de aconchegos
De lucidez parca

De pardas lamentações
Torceres e contorceres patéticos
Cacos estilhaçados e provocados

Que agora toma!
Apanha-os!

Vê lá se consegues agora
Galgar, admoestar o prazer que antes sentias
Em ser hercúlea, sentir um agradozinho em ultrapassar todas as aflições
Do cabo dos trinta.

É disso que se trata, não é?
A arrogância, a prepotência como arma de arremesso
Contra tudo e contra todos
em saltar de dia em dia
Em alvoroços funestos diários

E lembra-te:

“A dor que se encrava em nós
pode não ser voluntária”

“Pode”.

Bárbara Bardas

25/12/12

Inventam tudo,
palavras, lugares, gestos,
pessoas presas e gastas, de tanto quererem viver.
Fingem não ver quem está ao lado, querem ver quem está longe,
cansam-se e cansam os outros,
choram, gritam e esperam por dias que não virão.

Ana Almaça

10/12/12


Uma divisão para a B.B.
Outra para a Bárbara.
E outra para a Andreia.
Conjuntos de insectos presos em células.
Esbarram no caos – ao cruzarem as divisões.
As diferentes células chocam umas com as outras.
Os insectos soltam-se.
Integram-se no caos.
Este cresce.
Elas procrastinam-se.

Bárbara Bardas

07/12/12

Escrita Automática

Era uma vez alguém
que estando tão à nora
se punha a inventar
inventar até pode parecer coisa de desocupados
mas ao que parece não era

Era uma vez alguém
que farto de procrastinar
inventava cafés para beber, cigarros para intoxicar
e precisava também de um nodepe da Adília (ela sabe o que é)

Era uma vez alguém
que tendo a mania que era petulante
pensava que conseguia dobrar todos os cabos das malfeitorias

Era uma vez alguém
que nas imediações de atingir o que queria
se punha a inventar vontades de vertigens
viscerais, de nós estomacais, ausências de direcção
e se punha a fazer o que não devia

Era uma vez alguém
que tanto inventava que tinha de se auto-censurar
que dar barraca não gostava
e meter a pata na poça
também não

Arranjar distracções, subterfúgios,
palavras novas e expressões novazinhas
era o que fazia
em vez de algo de útil fazer

Assim, de repente
quem diz a verdade não merece castigo
mas parece, que também não é o caso

Bárbara Bardas

05/12/12


ouvi uma voZ – ANTES DO DIA
QUE ME DIZIA – É A REDONDINHA –
a chave – é o 4c – vai direitinha que é para não te esqueceres –
era uma vergonha e tu não te ias perdoar.
era uma razia.

Bárbara Bardas