Se não hesitei quando pela torre ecoou o sino
porque vou hesitar perante o abismo
entre espaldares de árvores tridentes da ramagem simples
ao sol seco.
Estou sobre o saibro como uma mulher mínima na curva do capitel.
A meu lado
vejo o fundo negro das figuras da adoração suspendidas
sobre si. O que conheço da liturgia
e dos temas naturais com que identifiquei a pintura,
os grandes tufos de lírios, dálias sem luz
da variação, apenas com o vinco e contorno negro
da morte como arte condigna para os seres vivos.
Assim é magnífico todo aquele que seguir a descrição do retrato fictício
das suas faces. O abismo é todo o espaço que mediar
entre quem não vacila e o modelo de imagens constantemente
perdidas no passado. Pensar que o pensamento de josepha e a severidade
para com a beleza dos frutos, das flores e das figuras humanas
é o domínio da vida sobre a ideia da morte. O sulcro do pincel obscuro
na mão de rosa
diante da paisagem clara com as faixas de fumo
que coincide com a minha descrição da vida matinal.
* Josepha de Ayala, pintora portuguesa do período barroco
Fiama Hasse Pais Brandão
in AS MULHERES VISÍVEIS - ANTOLOGIA DE POEMAS SOBRE MULHERES, ed. Alma Azul
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