II
A mulher de um gestor público,
como um personagem muito complexo de Minkowski,
está e não está preocupada com o seu futuro.
A mulher do gestor público
não está preocupada com o futuro,
a não ser que um tremor de terra deite por terra
A mulher do gestor público
não está preocupada com o futuro. Está, sim,
preocupada com o tédio.
Vai à missa,
à modista, comprou um vídeo e um computador para as criancinhas
mas sem êxito. A sua vida
é um tédio contínuo.
Pensou alugar loja de bombons.
Optou por embalagens selectas.
Não existe, em Lisboa, boutique de categoria,
e uma casa de embalagens,
pelo dia da mãe,
do pai,
da irmã,
do avô,
do cachorro,
tem importância crucial, não referindo já Páscoas,
Natais,
festas,
festinhas.
A mulher do gestor público
exige uma mudança miraculosa no seu sistema de
vida. Ou ela muda de vida
ou terá de consultar um colega do marido.
É preferível tomar já a iniciativa a ter de enfiar
um tubo pelo nariz.
Falta-lhe sócio para o projecto
mas a mulher do gestor público, e o gestor público, são intímos
do político e da mulher do político.
Com o tempo, quem sabe?, talvez se decidam
embalar o país.
(continua)