10/12/11

CLICHÉS DE PÉSSIMO GOSTO

II

A mulher de um gestor público,
como um personagem muito complexo de Minkowski,
está e não está preocupada com o seu futuro.

A mulher do gestor público
não está preocupada com o futuro,
a não ser que um tremor de terra deite por terra
a sua conta bancária.

A mulher do gestor público
não está preocupada com o futuro. Está, sim,
preocupada com o tédio.

Vai à missa,
à modista, comprou um vídeo e um computador para as criancinhas
mas sem êxito. A sua vida
é um tédio contínuo.

Pensou alugar loja de bombons.
Optou por embalagens selectas.

Não existe, em Lisboa, boutique de categoria,
e uma casa de embalagens,
pelo dia da mãe,
do pai,
da irmã,
do avô,
do cachorro,
tem importância crucial, não referindo já Páscoas,
Natais,
festas,
festinhas.

A mulher do gestor público
exige uma mudança miraculosa no seu sistema de 
vida. Ou ela muda de  vida
ou terá de consultar um colega do marido.
É preferível tomar já a iniciativa a ter de enfiar
um tubo pelo nariz.

Falta-lhe sócio para o projecto
mas a mulher do gestor público, e o gestor público,  são intímos
do político e da mulher do político.

Com o tempo, quem sabe?, talvez se decidam
embalar o país.

(continua)

in a preços de ocasião, eduarda chiote, ed. & etc.