O lugar de repouso
está por inventar
A cidade é morna
o rio vazio
nem o mar é filho do mundo
nem o mundo é mar
nem o meu corpo
A cidade é morna
o espaço baço
nem caem da face os olhos
nem se perde o braço
Na cidade
onde há a mais
a água e a sede
vamos na rede
como animais
Os animais chegam
pelo mesmo aqueduto
Se a água é limpa
o sangue é bruto
Exacerbadamente
vejo que onde
estamos teremos
já temos Tejo
Tão poucas folhas caídas a desoras
menos gente que ontem em sentido
contrário ao voo das aves
Poucas camas desfeitas com o peso
da insónia
larvas e ovos de larvas dentro da boca
Tão pouca gente a sós com a vertigem
tão pouquíssima gente nas ruas
com o astro-rei a tombar
Estão em casa a jantar
Antes que nos cubra a pedra
por lavrar
antes que o lavrador perca
a partilha
um monumento exacto há
que erigir
entre a Batalha e a Bastilha
Luíza Neto Jorge
In De Palavra em Punho – Antologia Poética da Resistência – De Fernando Pessoa ao 25 de Abril, org. José Fanha, ed. Campo das Letras
"Entre a Batalha e a Bastilha!", embora goste mais da segunda.
ResponderEliminarGosto muito deste belíssimo poema da Luíza Neto Jorge!