30/11/12

Desgostos

Um grupo de cavaleiros, um exército de infantes ou uma esquadra de navios são, para alguns, a mais bela coisa do mundo. Para mim, é o ser amado.

Qualquer um pode compreender sem dificuldade: Helena, cuja beleza excedia a da espécie humana, abandonou o seu nobre marido.

Sem se preocupar com o filho e os seus queridos pais, vagueou por Tróia, levada pelo amor, inconstante e leviana.

25/11/12

ESTA CIDADE

O lugar de repouso
está por inventar
A cidade é morna
o rio vazio
nem o mar é filho do mundo
nem o mundo é mar
nem o meu corpo
um chapéu de ilusionar

20/11/12

Assassinato de Simonetta Vespucci

Homens
No perfil agudo dos quartos
Nos ângulos mortais da sombra com a luz.

Vê como as espadas nascem evidentes
Sem que ninguém as erguesse - de repente.

Vê como os gestos se esculpem
Em geometrias exactas do destino.

Vê como os animais se tornam animais
E como os animais se tornam anjos
E um só irrompe e faz um lírio de si mesmo.

14/11/12


Grampeados à terra
Rugimos contra o que não queremos
Enésimas vezes e vezes sem conta
Vamos as vezes que forem precisas
Enlutados, lotados e em diferentes locais
Ganadaria fora daqui
Entes bastardos
Reis mascarados
Ante pé, avante pé, outro pé
Lascívias fora daqui!

Gravado na mente
Reses procurávamos
Estéreis buscas fazíamos
Valor era coisa que o nosso trabalho não tinha
Entre a escravatura lá estávamos
Gentes divididas
Era o que tínhamos
Raiva era o que nos cabia no peito
Antes, durante e prevendo as privações
Lutamos até vencer!

Bárbara Bardas

13/11/12

uma não estéril gestação quase completa:
do desprendimento do pretérito perfeito
do abandono do tempo condicional
a aproximação do presente do indicativo
o (re)nascimento brevemente anunciado

10/11/12

Era uma vez
Um país dos números
Nesse país
Apenas as casas decimais
Viviam
Veio um tufão
E trouxe um pau vertical
Os habitantes desse país
Chamaram-lhe
UM!

Nesse país
Onde as pessoas
Comiam a cultura
Com vírgulas
Disseram
Queremos
Uma
Cultura
Inteira!

Bárbara Bardas

05/11/12

Sophia

Este país de bruma
não era o teu país
tu vivias mais longe
mais perto da luz
do que da treva
do gesto claro
e não da eterna espera

Y. K. Centeno
in AS MULHERES VISÍVEIS - ANTOLOGIA DE POEMAS SOBRE MULHERES, ed. Alma Azul