Preto
sem submissão
palavra de relevo agudo
nas ruas
Preto
de água de vento de pássaro
de pénis
de agudamente preto
de demasiado
como um cardo submerso de
som
Preto de saliva na ogiva
dos lábios
Objectos solares
quentes interiores marítimos
curvos inseguros
preto
o tempo dos desertos
facetados na boca
lento
por dentro das pedras
a suporar de luz
Preto de túlipa
de arcanjo de pescador
de tão pouca vontade
De horizonte de pétala
de totalmente
preto
veias sem arestas
de areia
na garganta
sem gomos
de vidro
nos olhos
sem pedaços de
sons
paralelos
Preto
em perpendicular
aos ombros das janelas
jamais sinónimo
de noite
e nunca mole
em diagonal aos dedos
dedos habitados
pelo útero
dedos rasgados onde o
preto
começa
Húmido
Latejante
Entumescido branco
Preto
somente numa praça
a vagina da erva
Da ironia da viagem
do espelho do cuidado
no perder exacto
do inverno sem seios
sem sombra
Preto
de regresso na terra
de flores deitadas
a caminhar de
grades
nos jardins
De goivos
gaivotas coladas
de dorso às nuvens
Preto
como uma canoa
como parcialmente morto
sinónimo de hálito
de lago de nós
de glicínia
de peixe de lagoa
Rouco
magnânimo cinzelado
saudoso
Preto
de apertar na mão
e introduzir no sexo
Monge de sedução
a deslizar nos olhos
monge
de planície de pranto
de perante o dia
Preto
anca demasiada na lâmpada
De ciúme
Preto
oceano
Preto clínico
Preto
missão de apenas a sensação
no vácuo
apenas o desequilíbrio
dos cornos das cidades
dos cornos rosados dos
gladíolos abertos
Nebulosos
Preto
à maneira da infância
e da neve
Nunca trevas unidas
à angústia
nunca o peso
quebrado
dos crepúsculos cinzentos
Preto
de liberdade nos rios
de liberdade no povo
de liberdade nas manhãs
imóveis sem cintura
Unido
urgente inenarrável
Repetido
nos sarcófagos
nas árvores nas serpentes
no impossível
Preto de petrificar
nos pântanos
de acrescentar
nos templos
Longe
toda uma caverna
de distância
De fascínio
De florescer
Incenso
Como um coral ao acaso
sem porta
Preto
como um insecto
um vitral uma cave
Uma língua
Preto
de sabor entumescência
de punhos na lua
Ultrapassado
extremo
ruptura
Vertical em verde
na espuma
retido
Totalmente aberto
rebentado
nas gengivas dos frutos
Preto
totalmente suspenso de membros
nos rochedos
de grito
de rosto de barcos
de flechas
Uma espada
Uma fonte um prédio
Um minério
De através de memória
Uma ave
um gato
uma pirâmide
Preto
demasiadamente um hábito
demasiadamente pele de madeira
quente
Preto
convento redondo em nós
antigamente
Maria Teresa Horta
in ANTOLOGIA DE POESIA PORTUGUESA ERÓTICA E SATÍRICA, Ed. Antígona
sem submissão
palavra de relevo agudo
nas ruas
Preto
de água de vento de pássaro
de pénis
de agudamente preto
de demasiado
como um cardo submerso de
som
Preto de saliva na ogiva
dos lábios
Objectos solares
quentes interiores marítimos
curvos inseguros
preto
o tempo dos desertos
facetados na boca
lento
por dentro das pedras
a suporar de luz
Preto de túlipa
de arcanjo de pescador
de tão pouca vontade
De horizonte de pétala
de totalmente
preto
veias sem arestas
de areia
na garganta
sem gomos
de vidro
nos olhos
sem pedaços de
sons
paralelos
Preto
em perpendicular
aos ombros das janelas
jamais sinónimo
de noite
e nunca mole
em diagonal aos dedos
dedos habitados
pelo útero
dedos rasgados onde o
preto
começa
Húmido
Latejante
Entumescido branco
Preto
somente numa praça
a vagina da erva
Da ironia da viagem
do espelho do cuidado
no perder exacto
do inverno sem seios
sem sombra
Preto
de regresso na terra
de flores deitadas
a caminhar de
grades
nos jardins
De goivos
gaivotas coladas
de dorso às nuvens
Preto
como uma canoa
como parcialmente morto
sinónimo de hálito
de lago de nós
de glicínia
de peixe de lagoa
Rouco
magnânimo cinzelado
saudoso
Preto
de apertar na mão
e introduzir no sexo
Monge de sedução
a deslizar nos olhos
monge
de planície de pranto
de perante o dia
Preto
anca demasiada na lâmpada
De ciúme
Preto
oceano
Preto clínico
Preto
missão de apenas a sensação
no vácuo
apenas o desequilíbrio
dos cornos das cidades
dos cornos rosados dos
gladíolos abertos
Nebulosos
Preto
à maneira da infância
e da neve
Nunca trevas unidas
à angústia
nunca o peso
quebrado
dos crepúsculos cinzentos
Preto
de liberdade nos rios
de liberdade no povo
de liberdade nas manhãs
imóveis sem cintura
Unido
urgente inenarrável
Repetido
nos sarcófagos
nas árvores nas serpentes
no impossível
Preto de petrificar
nos pântanos
de acrescentar
nos templos
Longe
toda uma caverna
de distância
De fascínio
De florescer
Incenso
Como um coral ao acaso
sem porta
Preto
como um insecto
um vitral uma cave
Uma língua
Preto
de sabor entumescência
de punhos na lua
Ultrapassado
extremo
ruptura
Vertical em verde
na espuma
retido
Totalmente aberto
rebentado
nas gengivas dos frutos
Preto
totalmente suspenso de membros
nos rochedos
de grito
de rosto de barcos
de flechas
Uma espada
Uma fonte um prédio
Um minério
De através de memória
Uma ave
um gato
uma pirâmide
Preto
demasiadamente um hábito
demasiadamente pele de madeira
quente
Preto
convento redondo em nós
antigamente
Maria Teresa Horta
in ANTOLOGIA DE POESIA PORTUGUESA ERÓTICA E SATÍRICA, Ed. Antígona
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