I
Façamos greve de tempo
De pulmões castos não respiremos
As folhas trágicas veias
podem cair
Fechemos os olhos dentro
Silente na rocha amarga
o sulco humilde de nós
II
Quando o sonho for granito
quando o mar em cinza desvendar
as plumas inúteis das gaivotas
quando a espuma depuser velas
longínquas sobre a areia
e das pontes cair o derradeiro homem
quando as papoilas tiverem searas
as janelas absortas mortalhas de luz
quando nós formos outrora
quando o luto marcar as ancas verdadeiras
III
Porque ficou oceânico
o escasso momento de nós?
Escorríamos pelas mãos
insatisfeitas e límpidas
nascentes
no ar um tempo frustre
a sequência dos sons
perdidos nos degraus
Simples é a dor
e nós, nascidos
Luiza Neto Jorge
in Poesia, A Noite Vertebrada
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