07/11/15

A História apresenta-nos o homem como o grande herói da espantosa epopeia do género humano; o cérebro que pensa, a vontade que comanda, o braço que executa. A mulher, pelo contrário, é uma figura secundária, anónima. Contudo, ela esteve sempre presente no desenvolvimento das sociedades, como inventora, obreira e estimuladora, cujos esforços, labor e sacrifícios não conheceram limites.

Maria Lamas
In As Mulheres no Mundo

17/06/15

O corpo de dorido
Entrega-se ao quebranto
resignado
Cansado de lutar
Surpreendido
O corpo    tudo deu
Ao dar-te a si
E por ao que se deu
Foi derrubado

Desiste do porquê
Do perguntar inútil

Olhos febris
Sem ver
Ainda fitam
O vidro que o sol bate

E de momento
Pela dor
Vencido fica

À dor agrilhoado
Corpo do corpo-escravo
Jaz, vencido

Mas logo vencedor
Pelo olhar 
Liberto


Pois que o olhar
Insiste
Deslumbrado

Maria Eugénia Cunhal
in História de Um Condenado à Morte

21/03/15

Não limpes as minhas lágrimas.
Elas nunca secarão.
Atira terra sobre o meu caixão
E cravos vermelhos sobre mim.
Nunca haverá nada para além do fim.
Deixa-me partir.
No meu silêncio.
Com as estrelas e o luar,
Dançando nas ondas do mar,
Deixa-me partir,
Num tango, ou numa valsa.
Deixa-me partir.
Para lá. Onde tudo é sonho.
Onde tudo é silêncio.

Idália Caeiro