30/07/13

O Pastor

I
Era um homem
um homem
um homem.
Depois da sua era
Será para sempre a lembrança
A versão de uma lenda terrível.
II
Era um pastor que pastoreara
A grande promessa.
O pastor que conclamara
O horizonte e a agulha do astrolábio.
Era um pastor e sua trouxa do deserto.
Um pastor
e sua litania de queda e de nada.
III
Da festa era a inapagável memória.
Era a gravata da demência no Equador.
Era o ar entupindo os poros das casas.

IV
Ogun não sabia.
Algures alguém dormia.
Valsavam palácios em Kampala e Alexandria.
V
Tombam dos galhos as bocas
- infaustos frutos -
e eis os abutres que arfam
Ei-los com zelo curvados
sobre um tapete de sonhos

Eis que goteja em seus crânios
um diadema de ventania e de trevas.

Eis as cinzas do relógio, as migalhas da bandeira.
O pastor semeia a morte
pelos poros do seu reino
e cólera alguma
tambor fumaça notícia
esconjura a azáfama da colheita.

Conceição Lima

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