30/10/12

O FECHO AFECHO


O fecho gira ao contrário do sol
O fecho gira carta topográfica
O fecho grita lua azul
O fecho grita na submissão do dia
O fecho partícula
O fecho podre escravo
O fecho vento que remove e que traz
O fecho soturno de um careto
O fecho com sorte
O fecho pé na essência das aberturas
O fecho corpo dinheiro
O fecho abre a noite com o silêncio
O fecho morto no claustro
O fecho anda
O fecho gira
O fecho todos os dias
O fecho histórias constelações
O fecho marca
O fecho anunciação
O fecho pulsante carne insecto
O fecho eu
O fecho meu
O fecho todo da planície
O fecho gira
O fecho grita
O fecho pulsa
O fecho barco

Bárbara Bardas
Poemas da Imitação


25/10/12

Prepúcio

O duplo de mim, cristão
a metade de meu duplo, judia
se nascemos perdemos algo
por via dolorosa
e se não nascemos juntos
perdemos tudo.
Perdemos tudo.
Uma escola completa de tradutores
escrevendo molhado sobre seco
à saída do banho turco

20/10/12

A metáfora do ritual, do teatro e do jogo


Na característica rotineira do acto
Eis que surgem vários déjá vus
Na região da frente digo que vou à casa-de-banho
(preciso de tempo para pensar) volto e actuo com racionalidade, cordialidade
Mas sempre com uma tensão presente.
Percebe-se. Isso. E magoa-me. O espectro
Na região da retaguarda, espaço aberto ao confronto entre indivíduos com intimidade – não há nada de menos apropriado.
Porque os anos passam e a maturidade procura-se

Eis que surgem outros déjá vus
Todos com a mesma idade

“Algumas formigas têm mais animais domésticos que os homens” dizia o sir

Quando é que isto acaba?

Isto e a pergunta do Varela iminentemente constante, qual insecto aprisionado em campânula de vidro: “O que é que queres mostrar?”

Bárbara Bardas

15/10/12

MORTAL DOENÇA


Na febre do amor-próprio estou ardendo,
No frio da tibieza tiritando,
No fastio ao bem desfalecendo,
Na sezão do meu mal delirando,
Na fraqueza do ser, vou falecendo,
Na inchação da soberba arrebentado,
Já morro, já feneço, já termino,
Vão-me chamar o Médico Divino.

10/10/12

RETRATO DE UMA PRINCESA DESCONHECIDA

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com um tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes

05/10/12

Legs back to the road
in harmony
again

Barcas Novas

Lisboa tem suas barcas
agora lavradas de armas

Lisboa tem barcas novas
agora lavradas de homens

Barcas novas levam guerra
As armas não lavram terra